A gonorreia é uma das
infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais comuns na atualidade. Recentemente,
um caso de gonorreia resistente à maioria dos antibióticos deixou alarmados os
profissionais da saúde ao redor de todo o mundo. Os primeiros relatos sobre sua
ocorrência datam de milhares de anos, podendo ser encontrados no Antigo
Testamento e em outros escritos antigos. Mesmo sendo conhecida há bastante
tempo, a gonorreia continua sendo muito comum e causando, por vezes,
desdobramentos graves. Por isso, vamos reforçar informações sobre essa
infecção.
Quem é o agente
causador?
O agente causador da gonorreia é a bactéria Neisseria
gonorrhoeae, um diplococo Gram-negativo.
Como a gonorreia é
transmitida?
A transmissão ocorre
pelo contato sexual desprotegido com um indivíduo infectado ou, ainda, da mãe
infectada para o bebê durante o parto. A chance de transmissão da gonorreia em
uma relação sexual com indivíduo infectado é de aproximadamente 50%.
Quais são os sinais e
sintomas da gonorreia?
O período de incubação,
ou seja, o intervalo entre o contágio e o aparecimento de sinais e sintomas,
dura de 2 a 7 dias. As manifestações dessa patologia são diferentes entre homens
e mulheres e, em uma parcela dos indivíduos, a gonorreia pode permanecer
assintomática.
No homem, a gonorreia
causa a chamada uretrite, ou seja, inflamação da uretra. O quadro clínico se
inicia com prurido na fossa navicular (sensação de coceira na parte distal da
uretra, que está na região da glande do pênis). Entre 1 e 3 dias, o indivíduo
passa a apresentar disúria (ardor ao urinar) e saída de corrimento pelo canal
da uretra. Este corrimento pode se iniciar em pouca quantidade e com aspecto
mucoide, mas ao longo dos dias vai se tornando mais abundante e adquire aspecto
purulento. Na ausência de tratamento, o quadro se propaga para o restante da
uretra, podendo surgir polaciúria (aumento do número de micções com pouca saída
de urina em cada uma delas) e sensação de peso no períneo. Também pode ocorrer
a epididimite, que é a inflamação do epidídimo, uma estrutura adjacente aos
testículos. Com isso, os testículos podem ficar edemaciados (inchados) e
doloridos. Alguns pacientes podem apresentar hematúria (sangue na urina) ao
final da micção e febre.
Na mulher, a gonorreia
causa a cervicite, ou seja, inflamação da cérvice uterina (colo uterino).
Inicialmente, surgem sintomas como corrimento vaginal, que costuma ser espesso,
amarelo-esverdeado e fétido; disúria (ardor ao urinar) e dispareunia (dor
durante o ato sexual). Ao exame ginecológico, é possível ver a saída de
secreção purulenta pelo colo do útero, o qual pode ficar edemaciado (inchado) devido
a inflamação e sangrar facilmente quando tocado. Se não tratada, a cervicite
pode se estender a todo o útero e aos seus anexos (tubas uterinas e ovários),
causando a doença inflamatória pélvica (DIP), a qual pode levar a gravidez
ectópica, abortamento, esterilidade e dor pélvica crônica. A febre também pode
estar presente.
Além destes sinais e
sintomas, a gonorreia pode apresentar outras manifestações menos comuns:
-
Perihepatite
ou síndrome de Fitz-Hugh-Curtis: ocorre quando a inflamação se estende da tuba
uterina até a cápsula hepática e ao peritônio adjacente. Provoca dor e sinais
de peritonite (inflamação do peritônio) no quadrante superior direito do
abdome. Também podem ocorrer náuseas e vômitos.
-
Gonorreia
retal: pode ser assintomática ou apresentar sintomas como prurido retal, saída de
secreção purulenta pelo ânus, sangramento e constipação intestinal (“intestino
preso”)
- Faringite
gonocócica: pode ser assintomática ou se apresentar com aspecto semelhante a
outras infecções bacterianas da faringe, com placas esbranquiçadas e hiperemia
(vermelhidão) da mucosa.
-
Conjuntivite:
geralmente ocorre por autoinoculação do indivíduo infectado com a gonorreia
genital; pode ocorrer conjuntivite grave, com exsudato purulento e ulceração da
córnea. Nas maternidades, é aplicado em todos os recém-nascidos um colírio com
nitrato de prata, a fim de evitar a conjuntivite gonocócica neonatal.
- Infecção
gonocócica disseminada (IGD): essa forma de manifestação da infecção ocorre
quando a bactéria se dissemina pela via hematogênica, ou seja, através da
corrente sanguínea. A afecção mais frequentemente verificada é a artrite gonocócica,
caracterizada por poliartralgia e poliartrite migratória (dor e inflamação em
várias articulações, migrando de uma articulação para outra). A artrite gonocócica
é a forma mais comum de artrite infecciosa. Também podem estar presentes lesões
cutâneas, além de febre e mal estar. Há relatos de complicações como
endocardite, meningite e osteomielite, que são, contudo, mais raras.
Como saber se eu tenho
gonorreia?
Ao perceber qualquer
uma das alterações descritas, é recomendável procurar o serviço de saúde. O
diagnóstico da gonorreia deve ser dado por um médico, e é eminentemente
clínico, ou seja, baseado nos sinais e sintomas apresentados pelo paciente. Também
há testes que podem comprovar a ocorrência da infecção, como: coloração de
Gram, bacterioscopia, cultura da bactéria, reação em cadeia da polimerase (PCR)
e teste de amplificação de ácidos nucleicos (NAAT). Estes testes, no entanto,
na maioria das vezes não são necessários, pois apenas os sinais e sintomas são
suficientes para fechar o diagnóstico de gonorreia.
Fui diagnosticado com
gonorreia. E agora?
Felizmente, a gonorreia
tem cura. Seu tratamento é feito com antibióticos, como a ceftriaxona e o
ciprofloxacino. Estes medicamentos só podem ser adquiridos com receita médica,
e precisam ser tomados rigorosamente para garantir a eficácia do tratamento.
Quando um indivíduo é diagnosticado com gonorreia, seu parceiro ou parceira
também precisa ser tratado, e durante o período de tratamento, a atividade
sexual deve ser evitada, para que não ocorra reinfecção.
Como evitar a
gonorreia?
A única maneira eficaz de evitar a gonorreia é
o uso de preservativo em todas as relações sexuais.
REFERÊNCIAS
BOTTEGA,
A. et al. Abordagem das doenças sexualmente transmissíveis na adolescência:
revisão de literatura. Saúde (Santa
Maria) Suplemento, p. 91-104, 2016.
PENNA,
G. O.; HAJJAR, L. A.; BRAZ, T. M. Gonorreia. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 33(5):451-464,
set-out, 2000.