Com a ascensão dos debates sobre os direitos femininos, evidenciada claramente pelas crescentes correntes de movimentos feministas, surge também à discussão sobre a responsabilidade, hoje majoritariamente feminina, do uso de métodos que evitem a gravidez, de forma reversível.
Atualmente o método contraceptivo masculino existente, a vasectomia, é um método invasivo (uma cirurgia que secciona os tubos deferentes, necessários para a condução dos espermatozoides do seu local de armazenamento - os testículos - até a uretra, por onde podem ser externalizados). Além disso, o método é de complicada reversão. Os dois fatores levam a certa resistência por parte dos homens, somados ao fato de que muitos temem uma diminuição do apetite sexual ou alguma dificuldade de ereção, apesar de a vasectomia não interferir na produção de hormônios masculinos nem em seu desempenho sexual.
Observando a demanda de um método contraceptivo masculino reversível e de fácil uso, aumentam as pesquisas com esse objetivo. Estão em andamento quatro seguimentos diferentes de pesquisa.
A primeira, desenvolvida por uma organização americana sem fins lucrativos, focada no desenvolvimento de abordagens médicas de baixo custo, criou um anticoncepcional masculino que pretende trazer ao mercado até 2017. A Parsemus Fondation anunciou que um polímero reversível não hormonal - que bloqueia os canais deferentes - provou ser eficaz em um estudo com babuínos. Ao contrário da maioria dos métodos femininos de controle de natalidade, o Vasalgel não é hormonal e requer apenas um único tratamento, a fim de ser eficaz durante um período prolongado de tempo. Ao invés de cortar os canais deferentes, como seria feito em um procedimento de vasectomia, o Vasalgel envolve a injeção de um contraceptivo polímero diretamente para esses canais. Este polímero, então, bloqueará qualquer esperma que tente passar através do tubo. A qualquer momento, no entanto, o dispositivo pode ser retirado com outra injeção e o esperma volta à sua “velocidade normal”.
Na segunda linha de pesquisas, cientistas da Universidade Airlangga, na Indonésia, desenvolveram uma pílula masculina com eficácia de 99% e quase sem efeitos colaterais. De acordo com o professor da universidade Bambang Prajogo, a pílula, que é derivada de um arbusto da indonésia, permite que os homens produzam espermatozoides, porém eles são incapazes de penetrar no óvulo. O ingrediente ativo da planta utilizada para produção da pílula interrompe três enzimas do esperma, o que enfraquece e tornam os espermatozoides incapazes de penetrar nos óvulos durante o período de fertilização. No momento, os pesquisadores estão trabalhando na dosagem desse princípio ativo que será introduzida na pílula e esperam criar uma fórmula que faça com que os homens tenham que tomar a pílula horas antes de terem relações sexuais. Os cientistas afirmam que o medicamento não afeta permanentemente a fertilidade masculina. Segundo eles, os espermatozoides voltam ao normal dentro de um mês.
Numa terceira pesquisa, cientistas australianos descobriram uma forma reversível de interromper o esperma, sem afetar o desempenho sexual. Testes em camundongos mostraram que o esperma poderia ficar “armazenado” durante o sexo. A descoberta foi publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences” (Pnas). A equipe da Universidade de Moash, coordenada por Sabatino Ventura, levanta a possibilidade de um contraceptivo seguro, não hormonal e reversível. A pílula funciona ao deletar geneticamente duas proteínas (alfa1A-adrenérgico e P2X1-purinoceptor), o que bloqueia a liberação de espermatozoides durante o ato sexual. A remoção das proteínas em ratos geneticamente modificados resultou em animais machos que estavam completamente estéreis, mas continuavam a acasalar normalmente. Os camundongos não sofreram quaisquer efeitos secundários e foram capazes de posteriormente ter uma prole normal.
Por último, de acordo com uma notícia publicada pelo site Science Daily, um grupo de pesquisadores norte-americanos descobriu que a JQ1, uma substância desenvolvida para o tratamento do câncer, pode fazer com que a contagem de espermatozoides e a mobilidade dessas células sejam drasticamente reduzidas, apresentando profundos efeitos sobre a fertilidade. Os testes foram realizados com ratinhos de laboratório, apresentando resultados bastante satisfatórios. Segundo os pesquisadores, a JQ1 inibe a produção de uma proteína chamada BRDT, essencial para a fertilidade masculina. A boa notícia é que a substância não afeta o desempenho sexual, não altera os níveis de testosterona, não é um método invasivo e não apresenta efeitos colaterais, além de tornar a fertilidade totalmente reversível, uma vez seja suspenso o uso da JQ1. Os testes clínicos devem ser iniciados em breve e os pesquisadores estão confiantes de que os resultados apresentados pelos animais também serão observados em humanos.
Divisão da responsabilidade
Apesar de ainda estar longe de virar uma realidade acessível nas farmácias, a possibilidade de um anticoncepcional masculino pode provocar alterações profundas nas relações sexuais entre homem e mulher. Para a psicóloga especialista em sexualidade Aparecida Favoreto, eles poderão assumir mais responsabilidades.
- Isso dá ao homem um poder maior para decidir sobre a sua reprodução. Também responsabiliza mais, porque o peso dessa decisão não fica só com a mulher - opina a mestre em saúde coletiva, que também alerta: - Muitos homens usam camisinha mais preocupados em não engravidar do que com as doenças sexualmente transmissíveis. O lado ruim é que isso poderia trazer um relaxamento no uso da camisinha.
“Mais de 23 mil homens e mulheres assinaram uma petição clamando por novos métodos (contraceptivos), e 18 mil pessoas estão aguardando notícias dos exames clínicos de Vasalgel. Homens desesperados para ter mais controle sobre o seu destino reprodutivo já doaram milhares de dólares para o projeto”, escreveu Elaine Lissner, diretora da Parsemus, em um artigo publicado no The New York Times, sobre o anticoncepcional masculino.
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