Sexo oral pode transmitir DST?

Camisinha é o método mais fácil e eficiente de impedir o contato com sangue, esperma e secreção vaginal.

Casais que são fieis precisam usar camisinha? Beijo na boca transmite Aids? Sexo oral é seguro? Quando se trata de doenças sexualmente transmissíveis – as DSTs – as dúvidas são muitas – e os mitos que as cercam também.

De acordo com uma pesquisa do Ministério da Saúde divulgada no ano passado, mais de 10 milhões de brasileiros já tiveram algum sinal ou sintoma de alguma DST. Desse total, cerca de 30% não buscaram atendimento médico – o que pode agravar o quadro da doença e torná-la mais difícil de ser tratada, deixar a pessoa mais suscetível ao aparecimento de outras doenças oportunistas e até mesmo levar à morte.

Os números são alarmantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que aproximadamente 340 milhões de casos de DSTs ocorram no mundo anualmente. Só de Aids já existem 33,5 milhões de pessoas infectadas em todo o planeta hoje (490 mil só no Brasil), segundo dados da Unaids (órgão especial da ONU para a Aids).

O sexo e as doenças  

Como o próprio nome diz, as doenças sexualmente transmissíveis são transmitidas, na maioria das vezes, por meio do ato sexual (vaginal, anal ou oral). Algumas delas, como a Aids e a hepatite B, também podem ser transmitidas por objetos perfurantes ou cortantes contaminados (como seringas e lâminas).

"As doenças sexualmente transmissíveis, também conhecidas como doenças venéreas, transmissíveis, são infecções transmitidas através de relações sexuais, onde os fungos, vírus, bactérias etc. são transportados pelo sêmen ou fluidos sexuais", explica Rodrigo de Freitas, ginecologista do Hospital Samaritano de São Paulo.

Algumas pessoas acreditam que utensílios pessoais íntimos mal higienizados (roupas íntimas e toalhas de banho, por exemplo) também podem transmitir a DST, mas esse é um tema controverso. Isso porque é muito difícil que um vírus ou bactéria sobreviva em uma toalha, por exemplo. Mas alguns pesquisadores acreditam que, apesar de rara, essa transmissão pode acorrer no caso de algumas doenças, como o HPV e o chato (uma espécie de piolho).

Sinais de alerta

As principais DSTs são sífilis, gonorreia, tricomona, clamídia, candidíase, herpes genital, hepatite B e Aids. A sífilis caracteriza-se pelo surgimento de lesões, primeiramente nos órgãos genitais, e depois em todo o corpo, e pode levar a complicações cardiovasculares e nervosas.
A gonorreia provoca a inflamação do canal urinário e pode se alastrar para outros órgãos, causando complicações como artrite, meningite e problemas cardíacos. O tricomona provoca quadros inflamatórios na uretra dos homens e no canal vaginal das mulheres.

A clamídia provoca inflamação nos canais genitais e urinários, e pode causar infertilidade. A candidíase causa infecção genital, além de inchaço e vermelhidão nos órgãos genitais. O herpes genital caracteriza-se pelo surgimento de pequenas lesões dolorosas nos genitais.

Hepatite B provoca a infecção das células do fígado, e pode levar à insuficiência hepática crônica. A Aids provoca a baixa imunidade do organismo, deixando a pessoa suscetível a outras infecções, e pode levar à morte.

Apesar de serem doenças variadas, com sintomas variados, elas compartilham alguns sinais, que devem servir de alerta para a pessoa buscar assistência médica o mais rápido possível.

"Os sintomas são frequentes e visíveis das DSTs são úlcera genital, bolhas genitais, corrimentos e verrugas. No entanto, existem algumas dessas doenças – como Aids e hepatite B – que podem evoluir de forma assintomática", afirma Freitas, do Hospital Samaritano de São Paulo. Desta forma, o melhor é realizar exames periódicos para garantir que tudo está bem.

Apesar das DSTs serem envoltas em tabus, e muitas pessoas terem até mesmo vergonha de falar sobre elas com um especialista, é importante procurar ajudar logo nos primeiros sinais. Ficar calado e "esperar passar" pode acabar trazendo consequências muito graves, como infertilidade, surgimento de outras doenças oportunistas e até morte. Sem contar que a pessoa pode contaminar outras e disseminar a doença.

"As consequências de uma DST não tratada varia muito de acordo com a doença, mas podem ser inflamações pélvicas (muitas vezes chegando a formar abscessos e necessitar de cirurgia), esterilidade, câncer (de colo uterino, de ânus, de pênis e de garganta), hepatite crônica (caso das hepatites B e C), e morte", alerta Alessandra Bedin Ciminelli Rubino, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein.

Prevenindo para não remediar

Um dos mitos que cercam as DSTs é que casais fiéis estão fora de perigo. Mas não é bem assim. Toda população sexualmente ativa, sem distinção, é passiva de contágio. "Qualquer um que tenha relações sexuais sem cuidado está em risco", alerta Rubino.

Para se prevenir, o melhor método é usar o preservativo em todas as relações sexuais. A camisinha é a maneira mais fácil e eficiente de impedir o contato com sangue, esperma e secreção vaginal. Se utilizado corretamente, o risco de transmissão cai para 5%. Isso porque algumas doenças podem causar feridas em regiões não cobertas pelo preservativo.

"O uso da camisinha deve ser um hábito e pode até melhorar a relação. É preciso desconstruir o imaginário popular de que fazer sexo sem o preservativo é melhor", afirma o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco.

O preservativo começou a ser distribuído pelo Ministério da Saúde em 1994 e está disponível nas unidades básicas de saúde, centros de testagem e aconselhamento, serviços especializados e bancos de preservativos.

Também existem vacinas contra algumas DSTs, como é o caso do HPV e da hepatite B. "Além disso, exames clínicos periódicos com seu médico também ajudam, no mínimo para prevenir as complicações das mesmas", recomenda Rubino.

Apesar de todas as DSTs terem tratamento, nem todas têm cura. Esse é o caso do herpes genital, da hepatite B crônica e da Aids. Para estas existe somente controle. E esse é mais um motivo para se prevenir.

"Todas as DSTs têm tratamento, mas isso não significa que seja fácil: ele exige comprometimento, adesão e acompanhamento, e às vezes dura a vida toda – como é o caso da Aids. É muito melhor prevenir do que remediar", diz Kallas.
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