Hepatites Virais: Aspectos gerais, clínicos e epidemiológicos

As Hepatites Virais formam um grupo de doenças contagiosas que possuem como fatores comuns a etiologia relacionada a algum tipo de vírus e o fígado como órgão-alvo da infecção. Ao redor do mundo, essas doenças provocam, em média, 1.34 milhão de mortes, sendo 66% decorrentes de Hepatite B, 30% decorrentes de Hepatite C e 4% decorrentes de Hepatite A (WHO, 2017). No Brasil, entre 1999 e 2019, foram notificados 673.389 casos de Hepatites Virais, sendo 25% relacionados à Hepatite A, 37% relacionados à Hepatite B e 38% relacionados à Hepatite C (BRASIL, 2020). As complicações clínicas e as mortes estão relacionadas principalmente ao surgimento de quadros de câncer, cirrose e insuficiência hepática decorrentes do agravamento do estado de saúde dos acometidos pelas hepatites.  

O Vírus da Hepatite A (HAV) é um vírus de RNA pertencente à família dos picornavírus que é transmitido majoritariamente por via entérica (oral-fecal), embora existam evidências de sua transmissão por contato sexual. O Vírus da Hepatite B (HBV) é um vírus de DNA pertencente à família dos hepadnavírus que pode ser transmitido por via parenteral (contato com agulhas contaminadas), vertical (de mãe para filho) e sexual. O Vírus da Hepatite C (HCV), por fim, é um vírus de RNA pertencente à família dos flavivírus e que possui as mesmas características de transmissão que o HBV. A incidência da infecção por HBV e HCV, tal como por HAV, possui maior incidência em relações homossexuais, embora também ocorram de forma significativa em relações heterossexuais (WHO, 2017).

A Hepatite A não possui fase crônica e sua principal forma de controle é a vacinação. Quando infectados, 70% dos indivíduos são sintomáticos, podendo apresentar náusea, vômitos, anorexia, febre, mal-estar, dor abdominal, icterícia, colúria, acolia e prurido. (CDC, 2016).  A Hepatite B possui fase aguda e crônica, sendo sua profilaxia relacionada à vacinação e orientação ao uso de preservativo durante as relações sexuais. Na fase aguda, 30% dos infectados são sintomáticos, apresentando manifestações semelhantes às de outras Hepatites. A fase crônica é predominantemente assintomática, podendo levar a quadros de câncer, cirrose e insuficiência hepática. A Hepatite C possui patologia semelhante à Hepatite B, mas por não possuir vacina, tem na conscientização sexual sua única forma de prevenção (BRASIL, 2019).

O diagnóstico das Hepatites Virais ocorre por meio da identificação de marcadores sorológicos ou moleculares em amostras de fluídos corporais do indivíduo examinado por meio de técnicas como a RT-PCR (Transcrição Reversa seguida de Reação em Cadeia da Polimerase) e a ELISA (Ensaio de Imunoabsorção Ligado à Enzima). O fornecimento de testes rápidos pelo Sistema Único de Saúde tem ampliado fortemente a possibilidade de diagnóstico precoce dessas doenças, tornando o seu tratamento, na maioria dos casos, mais simples e eficaz (BRASIL, 2018). Não há medicamentos antivirais específicos para o tratamento da Hepatite A, que costuma ser naturalmente superada em poucos meses. As Hepatites B e C, apesar de se apresentarem assintomáticas na maioria dos casos, podem ser tratadas com os medicamentos Tenofovir e Daclastavir, respectivamente, nas suas fases agudas. A fase crônica, quando ocorre, demanda investigação clínica específica (BRASIL, 2019).

Sendo a via vertical uma das formas de transmissão das Hepatites Virais, as gestantes são um grupo que deve receber atenção especial na política de controle a essas infecções. A transmissão de HAV por via vertical é um evento raro, sendo autorizados o parto normal e a amamentação materna. Para portadoras crônicas do HBV, há um risco de transmissão de 5 a 30%, que pode ser reduzido por meio da terapia medicamentosa e não há restrições ao parto normal e à amamentação. Para portadoras crônicas do HCV, há um risco de transmissão de 3.8 a 7.8%, no entanto, o tratamento antiviral específico para Hepatite C não é adequado para o uso durante a gravidez, o que dificulta a prevenção da transmissão vertical e de eventuais danos no desenvolvimento fetal. Apesar disso, não há restrições ao parto normal e à amamentação. (BRASIL, 2020).

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológico Hepatites Virais 2020. 2020. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2020/boletim-epidemiologico-hepatites-virais-2020>. Acesso em: 12 jul 2021.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais. Manual técnico para o diagnóstico das hepatites virais. 2018. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2015/manual-tecnico-para-o-diagnostico-das-hepatites-virais>. Acesso em: 12 jul 2021.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para Hepatite C e coinfecções. 2019. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2017/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-para-hepatite-c-e-coinfeccoes>. Acesso em: 12 jul 2021.

CDC. Centers for Disease Control and Prevention. US Department of Health and Human Services. Viral hepatitis surveillance: United States, 2013. 2016. Disponível em: <https://www.cdc.gov/hepatitis/statistics/2013surveillance/index.htm>. Acesso em: 12 jul 2021.

WHO. World Health Organization. Global hepatitis report. 2017. Disponível em: <https://www.who.int/hepatitis/publications/global-hepatitis-report2017>. Acesso em: 12 jul 2021. 


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